quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Mantra e Yantra, o que é.


Mantra

Mantra é  uma  antiga ciência védica criada e desenvolvida na Índia a milhares de anos e é uma das formas mais eficientes, poderosas e simples de meditar e atingir o desenvolvimento da mente, da consciência, da espiritualidade, existem muitas formas de meditação, mantra é uma delas e vamos compreender o básico desse instrumento de meditação.
Mantra deriva de dois termos sânscritos, Manas e traya , mente e proteção, aquilo que protege a mente. O ser humano, a entidade viva humana é composto por alma ou espirito, mente e corpo. Atman, manas, e sharira, o corpo ou os corpos físico, eterico, astral, e mental e acima disso nossa parte espiritual de atman, budhi e manas, espirito, consciência e mente. Essa constituição é representada pelo Sol que é nossa conexão e fonte do espirito, a lua que nos simboliza a mente consciente e inconsciente, e a terra que representa o corpo físico, energético ( etérico ) e astral.

Os mantras são um meio para despertar a kundaliní ( energia psicoespiritual ) e ampliar a consciência, melhorar a frequência vibratória e proteger a mente da negatividade.

2. Por que meditar com mantras ?

Como vimos, o mantra protege a mente.
Existem muitos, inúmeros tipos de meditação, podemos meditar simplesmente saindo da mente e buscando o vazio interior no coração.
Podemos meditar no Braman, Deus através da sua forma ou idéia.
Podemos meditar nos chackras, na natureza, usando a concentração profunda.
E dezenas, centenas de outros métodos todos eles válidos, eficazes e ensinados em muitas tradições no oriente.
Porém na nossa era, definida pelos textos védicos como Kali Yuga, era da escuridão vivemos num processo onde não temos tempo, lugar adequado, e mente concentrada o bastante para longas praticas e temos a mente e os sentidos agitados pelas distrações, preocupações e estress da vida faz com que práticas de meditação que exigem grande concentração, disciplina e tempo sejam inviáveis, as vezes impossíveis.
1.       Sair direto da mente e entrar no espaço vazio da mente, do espirito é muitas vezes bastante difícil pra mente condicionada que temos, geralmente isso se torna uma luta da mente contra ela mesma como um cão brigando com seu rabo, tornando a meditação extenuante.
2.      O Mantra foi criado para proteger a mente de si mesma nesse sentido, pois desconecta a mente de seus padrões repetitivos ( samskaras ) e do foco da mente nos desejos ( vasanas ) e permite que a vibração sonora do mantra vibre gerando um novo padrão de pensamento ( vritti ) que pode conduzir a mente ao estado de concentração ( ekagatra ) e concentração profunda ( dharana ) e finalmente ao estado de único pensamento ( dhyana ) o que levará ao estágio ultimo da meditação segundo o Yoga, o êxtase ( samadhí )



O Mantra

Um mantra é composto por um conjunto de fonemas, letras que formam um som que atua na mente e cria uma vibração, um vórtice, um campo vibratório que atua em todas as outras dimensões citadas acima, protegendo e dirigindo a energia da mente para um propósito que está contido no mantra. As escrituras antigas dizem que o mundo manifesto se origina da palavra ( vac ) da divindade, dos Devas ou de Deus, o verbo, e do imanifesto tudo se torna manifesto através do som, que é vibração.

Em nossa representação isso está representado pela descida da energia pelo Om, no ultimo chackra da cabeça, sahashara até a base da coluna, no mooladhara chackra, essa descida da energia representa a descida de Brahman, Visnhu e Shiva até o plano físico no mooladhara, com Ganesha, que é o Senhor das multidões de energias distintas no mundo dos sentidos. Esses sons que descem pelo nosso corpo representando a manifestação de nosso corpo e também do mundo acontece com a manifestação ou descida ( savitri ) das letras sonoras pelos sete chackras Sahashara no topo da cabeça, Ajnã na testa, Vishuddhi na garganta, Anahata no coração, Manipura no umbigo, Swadhistana nos genitais e Mooladhara na base da coluna.


Ganesha representa todas a base dessas energias e a sabedoria que as concentrou e organizou através dos cinco elementos materiais.
A energia desce até a base e depois através do desejo, e da energia ( shaktí ) sobe do mooladhara e se expressa através do pensamento em Ajnã ( mente ) e por fim é expresso na fala e na expressão em Vishuddi ( garganta ). Isso é chamado de manifestação do som de para-vac ( voz interior ) para Vaikhari , som audível.

Essas letras formam o alfabeto sânscrito e são chamadas de Akshara , os mantras são coleções dessas letras que ativam a shaktí ( energia ) interna de nosso interior para subir através dos chackras e da coluna na forma da Kundaliní e do Mooladhara chackra até o sahashara ( alma ) , Ajnã ( mente ) e voz ( Vishuddi ) para expressar nossa intenção, nosso desejo,nossa vontade e atuar na criação, usando nosso poder criador e de nossa consciência pois o mundo é moldado pela consciência conjunta de todos os seres, como dizem os físicos quânticos, sem seres conscientes para ver e interagir com o mundo, não haveria mundo.
As letras são :

अं अः
a ā i ī u ū
e ai o au a a

ka kha ga gha
a | ca cha ja jha ña | a ha a ha a

ta tha da dha na | pa pha ba bha ma | ya ra la va
क्ष
śa
a sa | ha ka

Quando se adiciona o Anusvara ( M ) se nasaliza o mantra e dá a força da vibração primordial do Om, ficando assim :

अं अः
am ām im īm um ūm
m m m m em aim om aum a a

E assim sucessivamente.
Origem.

O mantra é uma ciência védica, os Vedas são livros sagrados que foram levados para a India a milhares de anos atrás e foi compilado por sábios videntes chamados Rishis ( os videntes ) , esses sons foram ouvidos ( sruti ) e lembrados ( srimit ) e depois ensinados para as pessoas para obter a manifestação de suas melhores intenções e desejos, seus propósitos.
Existem quatro vedas, Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda e Atharva Veda, cada veda se dividiu em mais quatro partes : 

brahmanas : rituais para vários propósitos da vida, são os mantras do sacrifício ( Yajnã ) e através desses ritos e de sua pratica austera ( tapas ) se gera o calor interno que é representado pelo fogo ( Agni ) externo do ritual ( Yajnã ).

Esses mantras são para ajudar no estágio de vida de casado ( grihastra ) que é representado pelo fogo, a aquisição de riquezas, prosperidade e felicidade material e humana.
Samhitas : são os mantras com os procedimentos rituais onde e com os quais os mantras são realizados eficientemente.

Aranyakas : são os mantras para se praticar na floresta, isso representa o estágio onde se vai renunciando e se retirando da vida material.

Upanishad : significa aos pés do mestre, do guru. São a conclusão dos Vedas, assim eles foram a filosofia dos vedas ou Vedanta. Os mantras dos Upanishads são as falas ( vakyas ) que ensinam sobre o caminho da libertação do ser humano, Moksha.

Assim, os mantras védicos falam sobre os quatro propósitos da vida que são :

Artha ( riqueza ), diz respeito a prosperidade no geral, na cultura védica se entendia como terra e ouro más hoje podemos ampliar para a realização de todos nosso propósitos profissionais e materiais, inclusive ouro e terras ( rs ).
Dharma : ( virtude ) Dharma é uma palavra complexa que se refere a religião, virtude, retidão, a forma correta de viver.
Kama : ( prazer ) se refere ao gozo dos sentidos e todos os prazeres da vida que são parte inerente da vida humana na visão védica.
Moksha : ( liberação ) é a libertação do Atman, do Ser, do eu divino da prisão da matéria, chamado de Nirvana pelos budistas os Vedas compreendem que apesar dos outros objetivos serem parte inerente da vida a meta final do ser humano é voltar para o Brahmam ( A Fonte ) , Deus, ou o nirvana, os planos espirituais e sair do cativeiro material dessa dimensão da fisicalidade.

Assim, os Rishís através dos vedas compilaram os mantras e os transmitiram a milênios atrás e existem milhares de mantras que são divididos em seis angas ou partes :

Seis partes de um mantra


Um mantra tem os seguintes seis partes:

1.Rishi , o vidente que revelou o mantra, que tinha auto-realização, pela primeira vez através deste mantra, e atingiu o propósito através desse mantra ( Siddhi ), o Rishí é o que deu este mantra para o mundo. Ele é o vidente para este mantra. Sábio Vishwamitra, por exemplo, é o rishi para o mantra Gayatri. 

2. Chanda, o tempo, a métrica e rima para o mantra, O mantra tem um medidor, que rege a inflexão da voz. 

3. Devata, a deidade, divindade associada ao mantra. Toda mantra tem uma forma divina que é a manifestação pessoal do Brahman nos planos espirituais e ajuda, abençoa e é invocado no mantra. O mantra tem um devata particular ou ser sobrenatural, maior ou menor, conforme o seu poder de informar. Este devata é a deidade do mantra. 

4. Bija. O mantra tem um bija ou semente. A semente é uma palavra significativa, ou série de palavras, o que dá um poder especial ao mantra.O bija é a essência do mantra. Os Bijas conferem mais poder ou força ao mantra ou associam ele a várias shaktis, energias espirituais, Hrim por exemplo é o bija da Deusa , Maya, ou Devi. Om é o bija do brahman, a semente de todos os mantras e pra onde todos os mantras retornam. ( A Fonte )


5.Shaktí.  Cada mantra tem um shakti. A shakti é a energia da forma do mantra, isto é, de forma que a vibração criada pelos seus sons. Estes levar o indivíduo à devata que é adorado. A Shaktí de um mantra é o poder inerente guardado dentro do mantra, que é formado pelo campo vibracional original do mantra, não podemos acessar de uma vez essa energia acumulada por séculos depois de repetição milenar. Acessamos essa Shaktí quando conseguimos acessar através da repetição que gera o calor interno ( tapas ) que é exigido pelo mantra, isso se consegue através de pratica constante ( Sadhana )

6. O mantra tem um kilaka pilar, ou pino. Este se conecta a chaitanya mantra, a consciência, que está escondido no mantra. Logo que o pino  é removido pela repetição constante e prolongada do nome, o chaitanya que está escondida é revelada. O devoto recebe darshan do devata ishta
, a consciência do devata se comunica com o praticante (sadhaka ) e o favorece com seu propósito.
O propósito de um uma pessoa através do mantra é chamado de Sankalpa, ou resolução.

Yantra 

Yantra significa em sanskrito instrumento, máquina, ferramenta ou veiculo, é a expressão geométrica do mantra, baseado em geométria sagrada o yantra potencializa o mantra e carrega em sua geometria os aspectos das energias envolvidas no mantra, seu uso junto ao mantra tem um efeito de potencializar, firmar, aumentar a shaktí ou energia espiritual do mantra, cada mantra tem seu Yantra e devata, embora eles sejam parecidos possuem cada um uma forma e método de uso meditativo que é ensinado nos textos chamados Tantras.



A lei da Manifestação :

Muitos de nós já sabemos do segredo de que o pensamento, a intenção e a emoção criam.
Nós criamos nossa realidade através de nossos pensamentos, intenções e desejos, o problema é que não nos lembramos disso com firmeza e nos perdemos na ignorância de nosso poder ( Avidya ) que é gerada pelas forças da dualidade ( Asura, sem luz, não-luz).
O pensamento por sí só cria, más geralmente perdemos nosso poder pessoal ( Ojas shakti ) com nossos pensamentos, sentimentos e ações negativos e ficamos sem energia e poder para preservar nossos propósitos mais elevados.
O Mantra é a ferramenta que os sábios deram para preservar e proteger nossa mente, nossos propósitos e resolução ( Sankalpa ) , ele surge do poder do Eu Sou ( Atman ) e desce e sobe através de nossa Kundalini ( shaktí ) expressando nossa determinação em criar nosso destino.

Mantras védicos :




Os mantras foram revelados nos vedas, e posteriormente na literatura védica, eles foram revelados nos Puranas, a parte shmirit dos vedas e também em vários textos, nos Gitas ( canções ), no Ramayana, Mahabharatha e outros textos, shastras.

Os mantras védicos são muito exigentes, e eram cantados diante do fogo num ritual de sacrífico ( Yajnã ), alguns muito exigentes na métrica e na execução e nos rituais, e com isso muitos mantras ocultaram seu poder, ou foram contaminados e diminuíram seus efeitos com os abusos da Kali Yuga ( era da escuridão ), a era que estamos desde a morte do Senhor Krishna, 5.000 anos atrás, alguns desses mantras eram muito poderosos e podiam destruir uma pessoa que os executasse sem o devido conhecimento, muitos foram então protegidos com pinos ( kilakas ) ou ocultados ou simplesmente perderam efeito, e devido a isso os Rishís ensinaram novos mantras divididos em duas categorias nas escrituras :

 

Mantras Puranicos ou Bhaktas : 

São os mantras devocionais, protegidos e sem possibilidade de os erros e falhas de quem executa e exigem apenas sadhana, tapas e bhakti ( devoção ) através da repetição ( japa ), esses mantras nos aproximam das deidades e geralmente buscam Moksha ( liberação ) e Prema ( Amor puro ).

Mantras Tântricos :

São mantras derivados dos vedas que foram revelados pelos Rishís através de shastras chamados Tantras, esses mantras são relacionados a Shaktí suprema , Devi, a forma feminina da Deusa, o aspecto feminino da Fonte e são adequados e adaptados para a nossa era de Kali ( era da escuridão ) e por isso as exigências dele são diferentes, as qualificações são outras e não tem riscos de falha se corretamente pronunciados, recebidos e praticados sob a guia de um guru, mestre qualificado para transmitir esse mantra, são mantra poderosos no sentido de que sua shaktí ou poder inerente é potencializada por mantras bija ( semente ) e pelo guna, qualidade dos devatas a eles relacionados, bem como os ritos que os acompanham.

Na nossa Era, a era da escuridão devido ao dharma ( virtude ) ter diminuído bastante e prevalência da ignorância ( Avidya ), os mantras védicos podem ser na maioria infrutíferos para essa era segundo a grande maioria dos gurus. Isso faz com que os mantras bhaktas e tântricos sejam mais apropriados, cada um em seu função, para os praticamente desse nossa era de Kali.

Cantar, repetir os nomes divinos provocaria o fluxo da mente na direção da divindade purificando a mente e as emoções e gerando bhakti ( devoção, amor ) pela divindade, o que é pratica mais recomendada hoje pelos gurus e shastras hindus, pois é uma pratica fácil, que não exige muito tapas ( austeridades ) nem grandes Yajnãs ( sacrifícios ) ou recursos materiais.

Repetição de qualquer mantra ou nome do Senhor é chamado japa, repetição,  No Bhagavad Gita, Sri Krishna, o supremo avatar diz :

Yajnanam japa yajnosmi. 
 
Entre yajnas, eu sou japa yajna.
(Canto 10:25)

Japa é de três tipos: manásico, mentais; upanshu, sussurro, e Vaikhari, audível. Você tem que começar com a repetição do mantra sonoro no início e depois praticá-la em um sussurro. Só depois de praticar japa em um sussurro para pelo menos três meses você vai ser capaz de fazer japa mental. Japa mental é mais difícil. Um novato com uma mente bruta vai achar que é difícil de fazer japa mental, mas depois de algum tempo o método aparecerá fácil. Quando todos desaparecem outros pensamentos, não haverá prazer em japa mental; ou então a mente estará remoendo objetos sensuais. Japa Mental prepara a mente para a meditação profunda no Senhor, o japa feito mentalmente é o mais poderoso e eficaz.



O Om


            O Om é chamado pranava, é a origem de todos os mantras, o mantra védico original que representa o Brahman, ele contem as três letras A U M que marcam a energia tríplice da criação e atividade dentro da unidade, o Om representa o Brahman , a Fonte.
O Brahman é descrito nos Vedas como a origem primordial de tudo, a Fonte total de toda consciência, ele não é um ser pessoal com forma como o Deus conhecido no ocidente por que ele é a totalidade de toda consciência manifesta e imanifesta, e por isso não pode estar restrito a uma forma, local, atributo, sendo assim Ele é nirguna, sem qualidade materiais que possam defini-lo.
O Brahman , a Fonte, é chamado de Sat-chit-ananda como suas qualidades, sat é verdade, existência. Chit é consciência pura, e Ananda pura felicidade, do Brahman emana o Atman que se diferencia como ser da totalidade e entra na dualidade do vir a ser, namarupa, nome e forma e se torna o mundo manifesto na criação do universo, assim , Brahman se torna Saguna, com qualidades e se diferencia como todos os Devas, dando origem as divindades, como os jivas, ou entidades vivas conscientes em evolução e também os elementos da natureza material em vários mundos ( lokas ) e planos de existência ou dimensões de existência.
O Om representa o brahman e é cantado como a fonte de todos os outros mantras por isso, ele é o mantra inicial de todos os ritos védicos e meditações bem como o encerramento na maioria dos casos, e também é o mantra supremo original nos vedas.


Trimurti


            Do Brahman se diferencia Ishvará, o Senhor, a energia controladora e criadora que cria os mundos, Saguna Brahman ou Brahmam com qualidades e atributos, Brahman se divide em três Devas, Deva quer dizer ser de luz, e então no processo criativo segundo os vedas de Brahman surgem Brahma, Vishnú e Shiva.
Visnhú é o aspecto conservador do universo, em sua forma original se chama MahaVishnú, onde Maha quer dizer grande. Ele é a consciência mantenedora do universo, das galáxias, se diz que ele repousa no oceano de leite que pode ser compreendido como o corpo de luz de plasma de nossa galáxia como um ser vivo consciente e amoroso, que mantem unido todos os mundos , sois e estrelas. Ele está no total modo de pureza, que é chamado de Guna Satva, Guna é qualidade, Satva, pureza, luz ou bondade.
Brahmam e Brahma :

Em seu yoganidrá, sono criativo Vishnú emana Brahmá, diferente de Brahman, Brahmá é um aspecto criativo da Fonte, do umbigo de Vishnú, chackra swadhistana surge um lotús, do qual emerge Brahmá,que medita mil anos e dele emana os outros Devatas, ou Devas relacionados a criação.

Podemos compreender isso como a descida da esfera da consciência galáxia para a esfera do sistema solar e planetas, por que do corpo de Brahma emerge os outros Devas elementais da criação.
Surya o deus Sol, Chandra e Soma deuses da lua, Agni deus do Fogo, Vayu deus do Ar, Indra deus das chuvas e céu, Varuna deus das aguas, e todos os deuses dos planetas como Shani ( Saturno ) ou Shukla ( Vênus ).

Dando origem assim também a criação diferenciada de todos os seres, sarvabhutam e todos os mundos materiais e espirituais com infinitas formas e nomes.
Na criação, todos os seres são Atman, o eu divino imortal , o Eu Sou, porém devido ao envolvimento com a criação, Maya, esquecemos através de nossa ignorância ( Avidya ) a nossa unidade com a Fonte ou Brahman e desenvolvemos o ahamkaram, o sentimento de eu separado, ego e corpo materiais.

Os Devas como Brahmá, Vishnu, Shiva não passam por esse esquecimento pois são nirguna e saguna, além dos efeitos materiais mesmo estando neles, e são Ishvaras, controladores supremos e não seres controlados.

Brahmá representa o aspecto Rajas, ação, paixão, criatividade no plano material dentro das qualidades ( gunas )

Os jivas ( desfrutadores,jiva vem do termo sânscrito para língua ) sim são condicionados e controlados pelas limitações materiais quando corporificados e presos a Maya ( ilusão )
Essa é a interpretação Advaita, não dualista da filosofia Védica, havendo outras interpretações, más consideramos importantes colocar aqui essa interpretação para que vocês, conhecendo agora os mantras, possam relaciona-los as respectivas formas e divindades atribuídas a eles, inicialmente, de forma básica aqui apresentada.



                                                                    Shiva/Shaktí


Shiva

Shiva é Rudra, aquele que grita, é o aspecto transmutador, transformador e destruidor da manifestação.
Como Vishnú conserva a criação em seu aspecto galáctico e cósmico, mantendo a ordem, como brahma manifesta o plano material dos mundos, planetas, Shiva dissolve todas as qualidades e diferenciações, nomes e formas e os devolve para o plano divino da dissolução no fim de ciclos cósmicos ( Pralaya ) encerrando o ciclo da criação.

Shaktí
Shaktí é a energia criativa feminina da Fonte, Brahman quando se torna Ishvara, portanto, ela é Ishvarí, a força criativa divina feminina.
Quando a Fonte, o brahman sem segundo se diferencia em gunas ( qualidades e forma ) também se divide em aspectos femininos que acompanham o arquétipo masculino na tarefa da criação.
Assim, a Shaktí, consorte ou esposa ideal de Vishnú é Lakshmí, a Deusa da fortuna e riquezas.
A Shaktí de Shiva é Parvati, que é a deusa da casa, da fertilidade, da maternidade.
E a Shaktí de Brahma é Saraswatí que é a deusa da sabedoria, da fala, das artes.

Mantras e Avatares.

Quando o dharma, a virtude, em cada uma das eras se decai e precisa ser mantido Sri Vishnú se manifesta como uma forma humana  e desce ( Avatar ) para restaurar a ordem, proteger o dharma e ensinar o dharma as pessoas.
Vishnú teve dez reencarnações no mundo material em nosso planeta , dez principais e outras menores, e também é acompanhado por todo um séquito , acompanhantes, Devas em formas humanas e divinas que fizeram parte do jogo ou lilá na manifestação dessas divindades no planeta.
Rama ou Sri Ramachandra ( por ser claro como a lua, Chandra ) foi uma descida de Vishnú ao planeta na forma de um príncipe junto com a deusa Lakshmí que manifestou como Sita Devi, Mãe Sita.
Posteriormente, no final da era da dualidade ( dwapara yuga ) Vishnú se manifestou como Krishna, Sri Krishna ou Govinda, por ser pastor, ele veio ao mundo através de Yashoda e foi criado entre pastores de gado por Devaki e se manifestou como um humano pleno de poderes ( Siddhis ) para se conectar com os humanos e despertar a consciência divina e manter o dharma vivo, sua morte natural deu inicio a nossa era de Kalí.
Além desses Vishnú pode ter inúmeros Avatares, alguns com forma humana, animal, semi-humana bem como inúmeros associados todos descritos nas escrituras védicas.
O mantra de Sri Rama, avatar de Vishnú cuja história é contada no épico Ramayana, e que lutou contra o demônio Ravana , e libertou a princesa Sita de seu sequestro é um mantra para reestabelecer o dharma de cada um de nós, a virtude, a bondade, coragem, e atingir a iluminação e a liberação, é um mantra para despertar o amor puro por Deus e pelas virtudes do herói interior que Rama representou na terra, e o amor puro que teve por Sita e todos os seres, protegendo a bondade.

O mantra é :
Om Sri Ram Jay Ram Jay Jay Ram
Ou
Om Ram Ramaya Namahá



Krishna Mantra 

Krishna é o purna avatar, a manifestação plena de Vishnú, o aspecto preservador e luminoso do Brahman, a Fonte, manifesto como ser humano. Seu mantra confere iluminação, liberação, e também amor puro, bhaktí por Deus. É um mantra que traz Moksha, a liberação do cativeiro material, assim como também prema bhakti que vai além de moksha pois é amor incondicional estando livre ou atado da condição material, Maha quer dizer mantra, esse é um dos grandes mantras para nossa era de Kalí.
Maha Mantra :
Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare
Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare
O maha mantra foi revelado não nos vedas originais, más num Upanishad, e sua escrita está nessa ordem no texto original. Algumas tradições Vaishnavas que tem grande proeminência na India preferiram mudar a ordem e cantar da seguinte forma, como uma variação da primeira :
Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare
Como o maha mantra é um importante mantra bhakta, a ordem não tem efeitos colaterais pois quando o mantra é transmitido por um guru, mesmo sendo cantado no tom errado, ou de forma incorreta, com bhakti, trás resultados, ao contrário dos mantras védicos que como comentamos, exigiam uma métrica perfeita.

Outros mantras pra Krishna :

Om Namo Bhagavathê Vasudevaya ( Um dos muitos nomes de Krishna era Vasudeva)

Om Krim Krishnaya Namah ( presto reverências a Krishna )






O Maha mantra também faz o nome de Rama nos primeiros versos :
Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare
Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare

Hanumam mantra :

Hanuman é o deus macaco que ajudou Rama a libertar Sri Lanka do demônio Ravana, ele personifica o amor puro, coragem, entrega a Deus e devoção incondicional, seu mantra confere bhakti ( devoção ),fé, força, e proteção contra magia negra, entidades maléficas e energias enviadas para nos prejudicar :

Om Ham Hanumataye rudratmakaya hum phat swaha

Ou 

Om namo bhagavathe Anjanejaya Mahabalaya  swaha



 
Shiva Mantra
Shiva é a perfeição da renúncia e yoga, a perfeição dos poderes que transformam tudo e reabsorvem o universo de volta a Fonte, Brahman. O mantra de Shiva confere liberação, paz, renuncia e desapego, assim como transmutação de todos os laços que nos prendem a negatividade da contaminação material.
O mantra é :
Om Namah Shivaya.
Esse pequeno mantra foi revelado no Rudram dos vedas, é o núcleo do Rudram, Shiva também é chamado Rudra ou Pashupati, tem muitos nomes, esse mantra é cantado pelos Shaivas ( adoradores de Shiva ) e por muitos yogis a milhares de anos na Índia e mundo todo.
Triambakam mantra

Om Triambakam yajamahe sungandhi pusti vardanam urdhva urkamiva bhandanam mrtyo muksha mamritat

Esse é o mantra de Shiva com três olhos, triambakam, ele quer dizer : “O Senhor de três olhos, assim como a semente tem de morrer pra se transformar no fruto, me transfere da morte para a imortalidade.”
Esse é um mantra para cura, evitar doenças, afastar doenças espirituais ou inflingidas por feitiços, evitar a morte prematura ou desejada por pessoas maldosas, foi revelado por Markandeya que tinha a morte prematura decretada aos 12 anos, e como Rishí que era recebeu esse mantra e se livrou da morte vivendo uma vida muito longa.

Ganesha Mantras

Ganesha é o filho de Shiva com Parvati, ele é o senhor dos Ganas, e dos Gunas, dos elementos materiais, Ganesha tem a cabeça de Elefante, quatro braços e segura um machado e um pratinho de doces mundaka. Ele é a personificação da sabedoria dos vedas pois sabe todos os vedas de cor, ele é o removedor de obstáculos e trás a iniciação em todas as atividades.
Seus mantras são para iniciar qualquer atividade espiritual ou mesmo intelectual e material, abrir as energias e caminhos do fluir da energia, assim como também focar a mente de forma positiva. Servem para desobstruir , remover e transmutar os obstáculos e bloqueios, Ganesha governa o primeiro chackra, mooladhara, a base das atividades e a residência da Mãe Kundalini.
Os mantras são :

Om Gam Ganapataye Namah

Om Gam Ganeshaya Namah


Shakti Mantras

            Shaktí é a energia suprema criadora da Fonte, e Shiva a consciência imanifesta que se diferencia como Atman ou purusha, a consciência individual. A Shaktí se diferencia também nos cinco elementos materiais e forma a Prakriti, ou natureza, sendo essa a expressão manifesta na dimensão material da Shaktí, más não diremante a Shaktí, assim como o Atman ou purusha é o brahman diferenciado pela existência condicionada numa forma e nome.
            Da Shaktí emana tudo e após ela descer na matéria formando os corpos ela deixa sua energia original dormindo na matéria para o retorno a Shiva, ela então reside em toda parte, más individualmente reside no chackra mooladhara do humano na forma enroscada, kundaliní.
Os mantras de Shaktí são bhaktas e tântricos, e servem para despertar essa energia adormecida bem como se aproximar da Deusa Mãe do universo através dessa energia e do poder do mantra, se conectando com a Deusa para a obtenção dos objetivos da vida, artha, kama, dharma e moksha, riqueza, prazer, virtude e libertação.
Assim como o bija mantra original de Brahman é o Om , o mantra original da Shaktí é Hrim, Hrim é o bija mantra da mahamaya ou da grande manifestação que é o mundo dos fenômenos e suas varias dimensões, incluindo a natureza, Prakriti.



 
Mantra da Shaktí

Lakshmí – Lakshmí é a Deusa da riqueza, da prosperidade, beleza , Lakshmí significa meta ou propósito e por tanto ela é o ideal da energia feminina e da beleza, sendo esposa de Vishnú, seu mantra é feito para se conseguir os propósitos pessoais de artha e kama bem como as metas profissionais, amorosas, seu mantra é :
Om Shrím Lakshmyai Namahá


Saraswatí  - A Deusa da sabedoria, artes, conhecimento, a deusa da mente e das letras sânscritas que formam a realidade da consciência que manifesta o conhecimento de tudo. Seu mantra é usado para desenvolver o aprendizado, sabedoria, artes, dança, musica, e para acessar o conhecimento védico.
Om Sam Sarasvatyai Namahá.



Kalí – Kalí é a Deusa que remove a escuridão, a ignorância, tamas a energia da inécia, ela é a Deusa que mata a dualidade e revela nossa verdadeira natureza espiritual, removendo a ignorância de quem realmente somos e a identificação com o ego.
Om Krim Kalyai Namahá.


Durga – Durgam quer dizer dificuldades, Durga é aquela que remove as dificuldades e aflições, aquela que protege e remove os conflitos do corpo, mente e alma nos três mundos. Seu mantra é :

Om Hrim Shrim Dum Durgaya namahá
Ou
Om Dum Durgaya Namahá


A Shaktí é o poder divino criador, a Mãe divina, a natureza ( prakriti ) é sua energia material más a Shaktí é um poder espiritual, diretamente surgida da Fonte ou Brahman, Ela é um poder inteligente que dorme em toda criação inclusive em nossa dimensão como Kundaliní, a energia enroscada, Ela desce quando nos abrimos a essa energia e nos permitimos acessar através da entrega e de seus mantras, rituais, esses mantras são a base e a essência do Tantra.
A Shaktí como a presença maternal da Fonte, de Deus é Mãe, ela está além de toda a materialidade e dualidade do universo porém pode se aproximar de todos.
Como Mahalakshimí ou Lakshmí ela é harmonia, riqueza, beleza e todos os propósitos de vida que estejam de acordo com o dharma ( verdade interior ) de cada pessoa, atraindo a prosperidade.
Como Mahakalí ela é força, poder, fogo e luz que transmuta toda negatividade e ilusão que criamos vida após vida em nossa contaminação com o mundo material sensorial ilusório ( Samsara ). Ela é uma mãe amorosa que protege, e retira as energias negativas dentro e fora de nõs com energia, o que lhe confere uma imagem apaixonada, forte, guerreira e destruidora de ilusões.
Como Mahasaraswatí ou Saraswatí a Mãe divina trabalha dando entendimento, sabedoria, informação e fazendo um canal de fluxo constante entre a Fonte e a nossa mente condicionada, acessando como diz o guru Aurobindo, a supermente, ela trás a organização dos padrões mentais confusos e remove a confusão que a mente dual cria na medida que vamos acessando sua energia divina amorosa de sabedoria.
No texto sagrado da literatura hindu, Chandi Purana, parte do Markandeya Purana e um importante texto para o Tantra, as três Deusas se envolveram em uma batalha contra as forças da escuridão a pedido dos Deuses, e na batalha se tornaram Durga, a que remove as dificuldades aflitivas e Chamunda, aquela que destrói a dualidade.

O mantra para Durga na forma de Chamunda, que reúne as três formas da Deusa é muito importante para o Tantra e vamos dar ele como exemplo de um mantra tântrico aqui, porém é importante salientar, que assim como todos os mantras, esse,especialmente por ser um mantra tântrico deve ser adequadamente recebido de um guru tântrico qualificado.

O Mantra é :
Om Aim Hrim Klim Chumundaya Vicce.

Sendo que Aim é o bija de mahaSaraswatí.
Klim é o bija de Mahalakshmí.
Hrím é o bija mantra de Mahakalí.

Os bija mantras são muito importantes na pratica tântrica de mantras, pois revelam a energia das deidades e shaktis envolvidas na meditação.

Esse mantra de Chamunda é chamado de navarna mantra, mantra de nove letras, e tem uma série de procedimentos que envolvem sua recitação na forma de japa. Não vamos revelar esses procedimentos aqui até por que não seria pratico fazer isso, porém usamos esse mantra como um belo exemplo dos mantras da Deusa.

Assim você pode conhecer, se identificar com qual mantra sua mente ressoa e procurar um templo, um guru, para buscar uma iniciação autêntica, não se contente com a recitação sem iniciação, pois é incompleta, porém você pode experimentar o prazer de repetir os mantras com o rosários de 108 contas e sentir sua energia e seus efeitos na mente, e assim pesquisar durante um tempo antes de escolher qual mantra pode servir a sua natureza, ou pode pedir orientação a qual poderemos ajudar se necessário.




A prática da meditação com mantras ( Japa )

            Como já foi dito, os mantras védicos originais eram praticados diante do fogo do Yajnã ( sacrifício ), e havia nesses sacrifícios o consumo de carne, bebidas como o soma e grãos, peixes, e em alguns Yajnãs magia sexual.
Com a evolução dos vedas, os renunciantes sanyas renunciavam o fogo e também começaram a ensinar mantras para os renunciantes, e assim surgiram também mantras para os ascestas que haviam seguido o caminho da renuncia, os adoraradores de Shiva, Shaivas passaram a preferir o caminho da austeridade e renuncia, assim como a maioria dos adoradores de Vishnú que resolviam seguir o sanyas criando então duas formas de praticar mantras, a Tantrica e a Vedanta.
A linha vedanta que surge dos upanishads dos vedas, e dos textos posteriores como Puranas, Samhitas, Gitas e Ramayanas e tem sua base nos ensinamentos dos monjes sanyasis, renunciantes da tradição hindu são para os praticantes que seguem o caminho da austeridade, Yoga, renuncia e meditação que surgiram dessa tendência, principalmente mantra Shaivas ou Shivaistas e Vaishnavas ou ligados a Vishnu.
Nesse caminho os gurus indicam uma série de restrições do comportamento como apoio a prática do japa e indicam essa restrição como exigência, como por exemplo os Vaishnavas gaudya da bengala pedem que na iniciação do mahamantra Hare Krishna se siga quatro princípios básicos :
Não comer carne, peixe ou ovos. – não beber ou se intoxicar – não jogar jogos de azar e não cometer sexo ilícito.
Podem parecer restrições simples para um monge ou pessoa que esteja no caminho meditativo más para muitos praticantes as restrições podem ser um sério impedimento para dar continuidade a pratica principalmente entre ocidentais, más é um caminho indicado para quem quer seguir uma vida de renuncia aos sentidos e a mente sensorial.
Essa atitude de renuncia e uma iniciação nesse tipo de prática de mantras com essas restrições alimentares e comportamentais devem ser bem maduras, pensadas, para não haver frustações posteriores, culpa, depressão, e problemas emocionais advindos de fazer uma escolha impensada e imatura que vá reprimir e suprimir sua personalidade, o que é muito comum acontecer com iniciados ocidentais e também orientais.
A linha tântrica é baseada na evolução védica do Yajnã, existe um tantra Shaiva, Shivaista que também segue o caminho sanyas, yogue, e segue a renuncia como base fundamental, restrigindo os sentidos através do yoga. E existe a pratica Shakta, voltado aos mantras Tantricos principalmente da Deusa más também todos os outros mantras de todas deidades védicas que não exige ou pede nenhuma restrição comportamental ou alimentar por que a origem védica desses mantras permite essa compreensão e esse modo de praticar.
Nessa linha tântrica que é a origem do tantra o consumo de carne, bebida, sexo, alimentos não é considerado um bloqueio ou impedimento para a pratica e na verdade o tantra é um caminho não repressor, que não reprime nada mais abarca tudo por que o tantra procura a expansão da mente e a liberação da energia kundaliní, que é uma energia espiritual que dorme na base de nossa sensorialdiade, o primeiro chakra, os instintos.
Assim na iniciação tântrica no mantra nenhuma restrição é exigida, pois se entende que o mantra é um remédio para a ilusão e não se deve esperar que o discípulo esteja curado para ministrar o remédio. Então primeiro se dá o remédio, o mantra e depois quando o praticante for purificando sua mente ele vai poder renunciar quais vícios, hábitos e praticas negativas ele tenha.

A única exigência que se faz na iniciação tântrica é ter um guru tântrico que seja realmente iniciado, por tanto que tenha tido um guru tântrico também e seja qualificado para dar iniciação.



Iniciação - Deeksha


            A iniciação é a transmissão do mantra que é feita nas tradições hindu, budistas, sejam tântricas ou não. Esse procedimento tradicional varia muito pra cada tradição, grupo, sampradaya e guru ou templo, e é feita quando a pessoa escolhe um guru, pede oficialmente a iniciação, entende o que isso significa e como é esse processo do recebimento do mantra e está também qualificado para tal.
O que qualifica uma pessoa para receber um mantra é o entendimento do que está pedindo, a compreensão do que que é um mantra e do que significado dessa pratica e estar apta para aceita o mantra, a tradição, sua aptidão pessoal e demonstração de interesse e boa fé para com o mantra, o guru e a tradição o qualificam também.
Geralmente a iniciação ocorre com alguma cerimonia, dada por um guru, e pode acompanhar o recebimento de um nome, devocional ou iniciatico e o aprendizado de outros ritos que acompanham o mantra recebido, ou procedimentos que acompanham esse mantra.

Essa iniciação pode ser dada diante do fogo numa cerimônia de fogo, ou ritual e um guru pode transmitir vários mantras ao longo da jornada do discípulo, de acordo com o real motivo para essa transmissão, após o recebimento, o discípulo pode dar alguma doação financeira ao guru , o dakshina, de acordo com seus recursos, o que é um procedimento milenar na tradição da mesma forma que no ocidente pagamos com tranquilidade por cursos e professores. 

O mal estar gerado pelos problemas que algumas pessoas foram exploradas por gurus de má índole foi por que essas pessoas se entregaram demais e resolveram fazer doações demasiadas  e se arrependeram, más se tudo isso for aclarado, debatido, e o guru e o discípulo forem honestos um com outros essa parte é apenas um procedimento formal, importante, que não causará nenhum prejuízo seja financeiro ou moral.

A partir do recebimento do mantra a relação mestre/discípulo se torna uma relação de aprendizado, confiança e respeito, na tradição o guru é visto como o próprio Shiva, como o próprio buda se for um mantra budista, e por que? Por que o mantra é a conexão com a divindade e foi transmitido pelo guru, como em essência, todos somos parte da divindade o guru é visto como brahmam, como Vishnú, como Shiva.

Então não se deve confundir a devoção ao guru com a devoção pessoal, ao ego ou corpo do guru, isso é feito de um estado de transcendencia  desses fatores, más aborda esses fatores pois tudo é considerado divino nessa pespectiva espiritual.

A deeksha é a transmissão espiritual do mantra,  pelo guru, e tambem da shaktí, da energia espiritual que o mantra possui acumulado pelos méritos de milhares de anos e de pessoas praticando, por isso é tão importante, e é realizada por um guru dependendo da tradição que acolhe aquele mantra, do dharma que o sustenta.

Assim, da mesma forma que voce entende que um professor precisa de qualificação para ensinar, deixe os preconceitos de lado, e se for praticar meditação com mantras, procure alguem qualificado.

Esse texto procura elucidar os aspectos mais significativos sobre mantras, procure se aprofundar mais e pode então ter segurança em sua pratica, os mantras tem efeito real na psiquê, é bom fazer com segurança, tranqulidade, firmeza.


Guru

            O guru é o mestre espiritual que no caso das tradições hindus e budistas estão qualificados para transmitir o mantra, más por que um mantra só pode ser transmitido por um guru e por que essa exigência, são perguntas pertinentes e sinceras que todos realmente podemos fazer para entender o processo.
A primeira coisa que devemos entender para responder essa pergunta é que o mantra não é um instrumento mental elaborado por acadêmicos para dar determinados efeitos psicológicos de condicionamento mental ou auto-hipnose como muita gente acredita. O Mantra é um conjunto de palavras que atuam além do mental a nível espiritual, energético, psíquico e emocional, e possui uma grande variedade de efeitos sutis, procedimentos, resultados, métodos, e uma base filosófica e ritual que o sustenta, sendo que todo esse escopo de coisas que envolvem o mantra é produto de uma tradição milenar muito grande, com escrituras que as embasam e dão o suporte filosófico.
Sendo assim, o guru é o professor, o iniciado e o sacerdote que conhece, praticou o mantra e obteve seus resultados através de longos períodos de sadhana, essa experiência acumulada , o estudo, o conhecimento das escrituras e a compreensão da filosofia através da convivência com os antigos gurus, que transmitiram para esses gurus o sistema numa corrente continua são as bases da tradição sobre a transmissão do mantra que se chamam parampara e sampradaya.
Sampradaya pode-se dizer como a linhagem geral onde os mantras e todas as bases que o fundamentam citadas acima são cultivadas, o que define a sampradaya é o conjunto e a linhagem, o conjunto de escrituras, rituais, ritos, e também de gurus especificamente ligados a origem do mantra, por exemplo um mantra de Vishnú como Krishna será transmitido dentro da sampradaya Vaishnava certamente, ligada a alguma linhagem de sanyasis como Saraswatí, Puri, ou outras linhagens de monges renunciantes , sanyasis.

Parampara é a transmissão continua de um mantra ou seja, o mantra foi revelado por um Rishí no passado , que transmitiu a seus discípulos, que transmitiram a seus discípulos e assim gerou uma corrente continua de transmissão raramente quebrada, essa sucessão garante que o mantra teve uma pratica continua e constante e nunca foi quebrada, embora isso possa acontecer em alguns casos de algum discípulos, outros existem para dar continuidade a esse sistema de mantra.
No Tantra a tradição do guru é muito importante, e isso é revelado pelas próprias escrituras que são chamadas Tantras, no Mahanirvana Tantra por exemplo em seu capitulo XIII falam da proeficiência que o guru tem nos mantras, yantras e ritos do Tantra que o qualificam como guru, esse conhecimento acumulado, a realização dessa sabedoria, a experiência acumulada por gerações e toda a maturidade culminam então no extasê, na vivência dos estados de Samadhí que são a meta do extasê e também o sidhi, os poderes internos desenvolvidos em altos estados de consciência proporcionados pelo mantra.
Muitas pessoas hoje em dia falam que o guru não é necessário, é uma coisa do passado e até prejudicial ao desenvolvimento espiritual, que vivemos numa era em que não é mais necessário um guru. E esse conceito é fruto de duas situações  : uma é uma série de experiências ruins que são narradas com gurus, falsos ou verdadeiros gurus por discípulos ao redor mundo que tem distorcido a opinião sobre gurus, o relacionamento com eles, seja por questãos financeiras onde alguns poucos gurus fraudaram seja por pessoas que enganaram ou manipularam pessoas usando esse titulo de forma verdadeira ou não, e muitos outros problemas discorridos disso.

Outro fator é uma crença que esse conhecimento já não precisa ser transmitido mais por outra pessoa detentora pois está atualmente disponível nos livros, internet e outros meios e vivemos uma nova era que dispensa os antigos saberes. Muita gente acha que o guru deve ser um santo, perfeito, totalmente sábio com muitos poderes místicos e sabedoria infinita. Essa visão, que é baseada nas narrativas antigas sobre alguns gurus, Rishis, mestres da literatura religiosa do mundo todo tem um fundo de verdade é claro, más também pode ser muito mal utilizada por um mentalidade imatura ao não entender que os mestres são humanos, são pessoas, muito humanos e totalmente passíveis de limitações, ego, e características humanas que não correspondam a perfeição que eles possam fantasiar sobre um guru.

Assim, a melhor coisa para se entender por que um guru é importante na transmissão de um mantra é que, sendo ele uma pessoa, pode ser muito sábia ou não tão sábia, e ter imperfeições, más se for qualificado para transmitir esses saberes, isso faz dele um guru.

 Assim como um professor, sensei, de karatê para transmitir a faixa preta deve ser um faixa preta experiente também, ninguém nunca aceitaria ser graduado numa arte marcial por um novato. Assim como um diploma em qualquer saber só pode ser dado por um conjunto de professores formados diplomados, e um determinado oficio é preferencialmente transmitido por um mestre de oficio, ninguém deveria estranhar que um mantra só possa ser dado por um guru, pois é a única pessoa, perfeita ou imperfeita, humana, qualificada para transmitir um mantra.

Namastê, Jaya Maa

Sri Amrtanandaji R. Nath